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Berlin, de Klaus Hofmann e os óbices enfrentados por um tradutor de ocasião obstinado

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Berlin, de Klaus Hofmann e os óbices enfrentados por um tradutor de ocasião obstinado.

Encantei-me por esta canção alemã, interpretada Klaus Hofmann, cantor e compositor berlinense. Não a conhecia e o acaso a colocou em meus ouvidos, ao assistir uma aula de alemão do curso Deutch, warum nicht?,  uma coprodução oferecida pela Deutsche Welle e o Instituto Goethe.

https://studiosol-a.akamaihd.net/uploadfile/letras/fotos/6/d/7/7/6d77351ab4325c0ac5406c584d561994-tb.jpgA emoção logo me assaltou ao escutá-la no audio da aula! Saí então à sua procura no Youtube e, lógico, a encontrei em versão integral. Que delicadeza da melodia, que harmoniosa expressividade  emanava da linda voz e da interpretação do cantor!  Despertado pela incontida curiosidade, parti para a  busca da letra da música na Internet, onde quase tudo se encontra, mas, desta vez, só achei mesmo a versão da lyrics em alemão. E aí, como entender? Busquei a tradução para o português, e nada!A tradução para o francês, nada! Para o inglês, nada também! Até que, por sorte, se me deparou um vídeo com subtítulos em alemão e em espanhol. Alvíssaras! Foi a minha festa. Mas eu ainda precisava traduzir o texto do espanhol para o português, apesar de o espanhol ser língua mais decodificável para nós outros de fala portuguesa. Com a ajuda de meus parcos conhecimentos de língua tedesca, muitos dicionários e boa dose de obstinação, cheguei a algum resultado, o qual quero compartilhar, pois poderei encontrar algum caridoso expert em alemão que possa me melhorar o esforço empreendido. Ao longo de minha aventura, depararam-se-me palavras dificílimas, como, por exemplo, uma tal de ROTZ. Os dicionários a traduziam por “ranho”, “muco”, “mucosidade”, “coriza”. Esses sentidos,porém, não casavam bem com o texto, pois como iria dizer que “ muco, lentamente, escorria pelas vielas”. Que muco seria esse? Seria possível fazer hilações, já que as frases anteriores do texto falavam de “embriaguês”,”haxixe”, “cerveja”. Quem sabe, imaginei, o autor queria se referir ao defluxo nasal comum em usuários de pó cafungado pelas  narinas? Não! Não dava! Seria necessário muita elocubração para aceitar esta hipótese.E  vasculhei, fucei, remexi tanto na Web que acabei encontrando uma acepção para a palavra, num registro familiar da linguagem: MODORRA. Adotei-a de pronto, pois achei melhor que aquela apontada pelo texto em espanhol: ABURRIMIENTO. Além disso,embora no Brasil a dominância de músicas estrangeiras seja notoriamente a daquelas em língua inglesa, preferencialmente as americanas, achei que uma música em alemão, raridade entre nós, poderia encontrar quem se sensibilize por outros idiomas e fosse tocado pela beleza da música de Klaus Hofmann ao nos presentear com Berlim,a cidade atormentada pelos traumas do nazismo e pelo Muro da Vergonha.

Aqui vai então o resultado de meu trabalho, que ofereço a quem interessar possa:

 

Berlin
Mein Gespräch, meine Lieder,
mein Haß und mein Glück,
mein Tag, meine Nacht, mein Vor, mein Zurück,
meine Sonne und Schatten, Zweifel, die ich hab,
an dir und in mir bis zum letzten Tag.
Deine Straßen, wo ich fliehe, stolper und fall,
deine Wärme, die ich brauch, die ich spüre überall.
Verkauf dich nicht,
Berlin,
jung bist du nicht,
du alterst so schnell,
buckelst zu sehr,
trägst an den Geldern der Freier so schwer.
Die werden gehn,
dich sterben sehn,
Berlin,
Geliebte Berlin.

Deine Ecken und Winkel, deine Höfe ungezählt,
wo der Dreck und die Armut nach Veränderung bellt,
dein Rausch am Morgen
riecht nach Haschisch und Bier,
und Rotz fällt gelassen auf Gassen von dir.
Deine Märkte, die Weiber, ihre Ruhe, ihre List
und manchmal ein Witz, der mich in den Magen trifft.


 
 
Verkauf dich nicht,
Berlin,
jung bist du nicht,
du alterst so schnell,
buckelst zu sehr,
trägst an den Geldern der Freier so schwer.
Die werden gehn,
dich sterben sehn,
Berlin,
Geliebte Berlin.

Deine Häuser mit Fluren,
wo man prügelt, wo man lacht,
wo man, wenns dunkel wird,
neue Mitbewohner macht.
Deine Räume, in denen der Schlaf ungern kommt,
weil die Luft zum Atmen fehlt,
wo der Sensemann wohnt,
doch wo du Freisein erfährst in dieser großen Stadt,
obwohl sie einengt und preßt und viele Mauern hat.

Verkauf dich nicht,
Berlin,
jung bist du nicht,
du alterst so schnell,
buckelst zu sehr,
trägst an den Geldern der Freier so schwer.
Die werden gehen,
dich sterben sehn,
Berlin,
Geliebte Berlin.

Mein Gespräch, meine Lieder,
mein Haß und mein Glück,
mein Tag, meine Nacht, mein Vor, mein Zurück.
Dein halbtotet Bahnhof, wo ich unter denen steh,
die morgen, schon morgen in bessre Städte gehn.
Wo ich dich verlassen will,
immer wieder, immer noch,
ich schaff den Sprung auch
Ich liebe
trägst an den Geldern der Freier so schwer.

Die werden gehn, dich sterben sehn,

Geliebte
Berlim
Minha conversa, minhas canções,
meu ódio e minha felicidade,meu dia, minha noite, minha frente, minha retaguarda,
meu sol e sombra, dúvida que tenho,
em relação a ti e a mim, até o último dia.
Tuas ruas onde corro, tropeço e caio,
teu calor de que necessito, que sinto por todas as partes.
 
Não te vendas,
Berlim,
Jovem tu não és,
Envelheces tão rápido,
te encurvas demais.
É tão difícil conseguir dinheiro dos clientes;
os quais se vão
e te verão morrer,
Berlim,
amada.
 
 Tuas esquinas e recantos,teus  inumeráveis pátios,
onde a sujeira e a pobreza
gritam por mudança;
Tua embriaguês pela manhã,
cheira a haxixe e cerveja;
e, lentamente, a modorra se abate sobre
tuas vielas;
teus mercados, as mulheres,
sua paz,sua astúcia,
e, às vezes, uma piada
me é um soco no estômago.



Não te vendas,
Berlim,
Jovem tu não és
Envelheces tão rápido, te encurvas demais,
É tão difícil conseguir dinheiro dos clientes,
os quais se vão
e te verão morrer,
Berlim.
Querida Berlim
 
 
 
Tuas casas com seus corredores,
onde se briga, onde se ri,
onde,quando escurece, chegam novos vizinhos;
teus quartos, onde o sono custa a chegar
porque falta ar para respirar;
onde habita a morte,
mas onde tu aprendes a ser livre nesta grande cidade,
embora ela tenha um grande muro que a aperta e oprime.
 
 
Não te vendas,
Berlim,
Jovem tu não és,
https://studiosol-a.akamaihd.net/uploadfile/letras/fotos/6/d/7/7/6d77351ab4325c0ac5406c584d561994-tb.jpgEnvelheces tão rápido, te encurvas demais.
É tão difícil conseguir dinheiro dos clientes,
os quais se vão
e te verão morrer,
Berlim,
amada.
 
 

Minha conversa, minhas canções,
meu ódio e meus triunfos,
meu dia, minha noite, minha frente, minha retaguarda,
tua embaçada Estação Central, da qual dependo
o amanhã, já chega o amanhã,
nas cidades melhoradas,
onde te quero deixar;
e sempre de novo, sempre ainda,
 dou o meu salto também.
Eu amo

É tão difícil conseguir dinheiro dos clientes,
os quais se vão, te verão morrer
Amada
 

 

Danke schön!

Para quem quiser, aqui vai o link para acessar o vídeo com a música: https://youtu.be/yHip8vCu_kE

 

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