Há algum tempo atrás, no Facebook, um prezadíssimo amigo aguçou minha curiosidade, citando um santo de nome esquisito,
no qual a reduplicação das duas primeiras sílabas pode gerar duplo sentido e provocar
humor e ironia. Ademais, SÃO CUCUFATE – este é o santo - não frequentava
até então meus parcos conhecimentos hagiográficos e, suponho, não deve lá ser
muito familiar aos ouvidos brasileiros.
Saí a pesquisar, pois em 25 de
julho, dia em que o santo é festejado, poderei dizer algo sobre ele. Então
vamos lá.
Cucufate foi um mártir do Cristianismo. Teria
nascido por volta do ano 269, em Scillium
(província romana de Cartago, hoje Kasserine, na Tunísia), e vivido no
território da atual Espanha. Pregou o
cristianismo na Catalunha e esteve na cidade de Ampúrias, até que o Império Romano o condenou à morte no ano 304.
Seu nome, diz-se, tem origem fenícia em “Qaqophas”,
significando “aquele que brinca, que
gosta de brincar”, havendo, porém, controvérsias. Embora seja um
mártir menor na paisagem hagiográfica da Península Ibérica pela reduzida
difusão do seu culto, Cucufate é cultuado em
locais da Europa bem conhecidos. Em Paris, por exemplo, onde é identificado por
vários nomes: Saint Cucuphat, Saint
Quiquenfat, e Saint Guinefort e
suas relíquias foram depositadas em lugar de honra na abside direita da Basílica
de Saint-Denis. Na Espanha, ele é Sant
Cugat, havendo até mesmo, em seu nome, a
localidade de Sant Cugat del Valles
(na província de Barcelona, Catalunha), onde se construiu entre os
séculos IX e XIV o Mosteiro de Sant Cugat del Vallès, um dos mais
imponentes monumentos de arte românica conservado na Catalunha e declarado
Monumento Nacional em 1931. Em Portugal são parcos os indícios da presença
do culto a São Cucufate. Entretanto, na Vila de Frades, uma freguesia portuguesa do concelho da
Vidigueira na região do Alentejo, existe a Paróquia de São Cucufate, instituída em 1255.
Cucufate, ao que parece, foi influente em Barcelona, havendo sido citado
pelo poeta cristão Prudêncio, no século IV, no Liber Peristephanon (4, 33-34):
" Barcinon
freta claro Cucufate surget"
[Barcelona surge apoiada pelo famoso Cucufate].
Cucufate foi preso e degolado durante o reinado de Diocleciano. As cópias das pinturas
aqui postadas representam, com intenso realismo, o Martírio de São Cucufate. Uma delas é da autoria de Aine
Bru, pintor
renascentista do século XVI, basicamente conhecido porque, em 1502, foi contratado para pintar o
retábulo do altar-mor da igreja do mosteiro de Sant Cugat. Atualmente o quadro
está exposto no Museu Nacional de Arte da Catalunha.
A outra, também aqui postada e igualmente de cruel realismo, data do
século XIII e consta da publicação « Le Mirouer historial » de « VINCENT » [de Beauvais],
tradução do monge dominicano «JEHAN DU VIGNAIS (1332) ,
manuscrito do acervo da Biblioteca Nacional da França (Speculum historiale,
1463, @BnF, Français 51, f.72v).
É tudo que consegui aprender.
Agradeço a quem quiser complementar.
Ronaldo Legey
Julho
2020
Fontes:
#Santododia,#Saocucufate
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